sábado, 5 de junho de 2010

CENTRO - Igreja de São Francisco

Considerada uma das mais antigas e tradicionais igrejas de Campos, e tendo em seu espaço, o marco central da cidade, a Igreja de São Francisco, localizada na Avenida 13 de Maio, apresenta alguns aspectos interessantes de sua história. Da pesquisa efetuada, encontramos apenas dois registros, um no Guia Geral da Cidade de Campos, e outro no livro Subsídios para a História dos Campos dos Goytacazes.
No Guia Geral, encontramos o seguinte texto a respeito da igreja de São Francisco,

Ex-Capela erguida em louvor ao Santíssimo (São Salvador), em 1652. Na gruta ao lado da igreja existe a inscrição assinalando o acontecimento. Existe, na Igreja de São Francisco, um enorme acervo de obras barrocas dos grandes santeiros coloniais. (Independentemente das igrejas citadas – algumas das principais da religião católica, como o Convento – existem outras também de real valor histórico e importância religiosa, pertencente à religiões diversas. No entanto, em termos turísticos, destacam-se a 1ª e 2ª Igrejas Batistas, localizadas à rua Tenente Coronel Cardoso e Rua Conselheiro José Fernandes.
Mas como sempre, é no livro Subsídios para a história dos Campos dos Goytacazes, que encontramos um relato minucioso a respeito da história da criação e construção dessa igreja, dedicada à São Francisco de Assis,
Já transcrevemos o auto de posse dos terrenos, onde esteve a velha Matriz, doados pela
Câmara, para se fazer a Igreja de S. Francisco. Agora vamos por em face dos nossos leitores alguns documentos sobre a construção de igreja de S. Francisco, documento que extraímos do livro de notas do 2º cartório dos anos de 1782-1783 a fls.191.
*Registro dos documentos que me foram apresentados por João Luiz Machado.
*Exmo. E Revmo. Senhor, Sizem os moradores da Villa de São Salvador dos Campos dos Goitacazes, comarca de Capitania do Espírito Santo, aonde se acham alguns Irmãos professos da veneravel orde da penitencia, que ellas pello sumo desejo que tem de abraçarem o mesmo instituto aonde melhor possão servir a Deus e assegurarem o melhor aproveitamento e salvação de suas almas desejão fazer huã capela com caza onde moram os Religiosos seus comissários e diretores aonde possão exercitar os Exercícios espirituais profeçando a dita regra de nosso Padre São Francisco e como não podem fazer sem licença de Vossa Excelencia Reverendíssima seja servido conseder a dita Licensa e Receberá mercê – Despacho – Como pedem. Rio 22 de Mayo de 1757- Bispo-Cumpra-se Azevedo – Dom Frey Antonio do Desterro por mercê de Deos e da Santa Sé Apostolica Bispo desta Diocese do Rio de janeiro e do Conselho de sua Magestade Fidelíssima,etc.Aos que apresente nossa provisão de Erecção de Capella virem saude e paz em Senhor que de todos he o verdadeiro remedio e salvação. Fazemos saber que atendendo nós ao que por huã sua petição que fica authoada na nossa camera ecleziastica nos enviaram a dizer o Ministro e mais Irmãos Definidores da Veneravel ordem terceira da penitencia do Patriarca São Francisco, da villa de S, salvador dos campos dos Goitacazes, deste nosso Bispo. Havemos por bem delle conceder Licença como pela presente nossa Provisão lhes consedemos para que possão erigir de novo huma Capella para sua venerável ordem terceira visto estar a antiga damnificada e ter pouca capacidade para os actos e funções solemnes da dita ordem a qual depois de feita e acabada que será erecta em lugar decente assignado pelo Reverendo Paracho separada de cazas e livre de uzos domesticos como tambem preparada do necessario e dos ornamentos de que usa a Igreja, recorrerão a nós com Escriptura de dote para a mandarmos cvisitar e benzer na forma do Ritual Romano, e nella se puder celebrar o santo sacrifício da missa. Data nesta Cidade do Rio de Janeiro sobre o nosso signal e sello da nossa chancelaria aos 28 dias do mez de Novembro de 1769 annos e eu Padre Bernardo José Duarte Ferreira escrivão da camara ecleziastica o sobscrevy – Bispo – Estava o sello Ferreira.”
“Dizem o Ministro e mais deputados da Veneravel orde terceira da penitencia de Nosso Serafico Padre São Francisco, da villa de São Salvador dos Campos dos Goitacazes que elles tem acabado de todo a capela que por ordem de vossa Excelencia Reverendíssima levantarão nova e como para nella se selebrarem os oficios Divinos precisa ser benta. Pedem a vossa Excelencia Reverendíssima seja servido conseder-lhes Licensa ao seu Reverendo Padre comisario ou outro qualquer sacerdote regular ou secular a quem elle delegar a possa benzer e receberá Mercê.”
- Consedemos Licensa ao seu Reverendo Padre Comissario para benzer a capella estando decente. Rio em 23 de Outubro de 1771. Bispo.”
Dos documentos que acabamos de transcrever se conclui que a atual igreja de S. Francisco não é a primeira capela, para cuja construção pediu Frei Joço de Monserrate a terra, onde esteve a velha Matriz, e que aquela capela, tendo ficado arruinado, a atual Igreja ficou concluída em 1771.
E na página 319, do mesmo livro, mas com o título, “A Matriz de Campos”, Júlio Feydit nos faz a seguinte revelação,
Como já provamos a primeira Matriz foi edificada onde está hoje a igreja de S. Francisco.
A 2ª Matriz foi feita em janeiro de 1745, contígua à capela dos Passos, que já nesse tempo havia na Praça de S. Salvador. Eis o documento que justifica essa afirmativa. Livro de notas do 2º cartório 1743-1744 fls. 82:
“Escriptura de obrigação de Pedro da Fonseca Osório que faz Manoel de Azevedo.
Saibam quantos este publico instrumento de escriptura de obrigação virem como no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1744, aos 8 dias do mez de Junho do dito anno nesta Villa de Sam Salvador Parahyba do Sul, em cazas de mroada de mim Tabalião ao diante nomeado, aparecerão prezentes partez ortogantez ensta escritura, de huma Pedro da Fonseca Osório e da outra Manoel de Azevedo provedor da hirmandade dos Santos Passos, a fazer-lhe huma caza de fabrica e de concistorio junto a Capella do Senhor dos Passos a saber: de sobrado de vinte e oito palmos de altura quatorze de sobrado pra sima e o mais para logea e ésta ladrilhada com um corredor, com escada sahindo para a sanchristia com trinta palmos em quadra, com a porta na logea correspondente a outra da Capella pello mesmo feitio, e na mesma logea três janellas rasgadas de duas portas, com seus postigos, e duas portas na escada e essas de caxeta, a casa forrada por sima de esteira com seus paineiz, a parede que reparte o corredor a Franceza (*) e as paredes da dita caza de trez palmos de adobe cozido com alicerces de pedra de quatro palmos toda rebocada, com telhado em trez faceas, e as janellas do sobrado com grades torneadas entre a parede, fechadaz com as fechaduras que forem necessárias e aldrabas, tudo por presso e quantia de 425$000, os quaez heide receber quando entregar a chave da dita obra a qual me obrigo a fazer athé Janeiro que vem de 1745 annoz, e se nezte tempo não der a dita obra feita não sendo por causa de doença ou alguma cauza equivalente que seja attendida deixarei de receber da obra cem mil reiz e se o dito Provedor Manoel de Azevedo ao entregar da chave não me pagar thé o último vintem, perderá cem mil réis de sua Algybeira para o dito Pedro da Fonseca Osório e de como assim o dicerão e outorgarão se obrigou o dito Pedro da Fonseca Osório por sua pessoa e benz a dita obra, mandarão fazer esta escritura que aceitarão e a signarão e eu também Tabalião aceito em nome de quem o direito tocar possa que lhes ly e aceitarão perante as testemunhaz prezentes Francisco da Fonceca Coelho e João Gonsalves Palmeira, pessoas reconhecidas de mim Tabalião Nicolau Tolentino Lisboa que o escrevy”.
Em 1824 a igreja Matriz foi reformada, e nessa reforma as portadas que eram baixas foram emendadas. Em 1861, a igreja com a torre do lado da rua do Sacramento fora do prumo, pendida, semelhante à torre inclinada de Pisa, chamava a atenção do forasteiro.
A Matriz tinha um rendimento extraordinário, mas era dissipado pelo vigário João Carlos Monteiro, que jogava jogos de azar.
Muitas vezes jogando, fazia a parada e dormitava, sendo preciso que os parceiros o acordassem para levantar o dinheiro que havia ganho, ou fazer nova parada, quando perdia!
Grande orador sacro, nos sermões da Semana Santa comovia seus ouvintes, principalmente as mulheres, das quais a maior parte chorava.
Era grande gastrônomo, e nos banquetes da maçonaria, nas iniciações na loja “Firme União”, da qual foi venerável, o presunto de fiambre e o arroz de forno, tinham no vigário o maior dos seus apreciadores.
Não havendo no seu tempo no Brasil o registro civil, nem a secularização dos cemitérios, quando falecia alguém, era preciso se tirar licença com o escrivão do vigário, o qual sendo surdo, ainda se fazia mais do que o era. Por exemplo: se um pobre ia enterrar uma criança, perguntava-lhe o escrivão: Vai de vestimenta branca ou azul? Ser era do sexo masculino: vai vestido como S. Miguel ou como S. João Batista; ou se era do sexo feminino: Vai vestida como N. S. da Conceição ou como a Senhora das Dores?
Se era menino o falecido, o pobre para acabar mais depressa com aquelas perguntas fastidiosas, respondia-lhe: Vai como S. João Batista, porque no meu entender aquele Santo é o que mais se assemelha no vestir aos pobres, pois não tem camisa; e o que o incomodava mais, era o preço da licença para o enterro. Quando o Pires, escrivão do vigário lhe dizia que o pobre lhe fazia ver que não podia pagar tanto, que o preço era caro, etc., então o escrivão, fazendo-se mais surdo do que era, respondia: “Seu Vigário não se importa que vá de carro, pode ir como quiser”; e só dava a licença a troco da quantia estipulada.
Tendo o vigário grande fortuna, e rendendo a Matriz mais do que qualquer usina, das que em seu tempo havia em Campos, morreu cheio de dívidas e de filhos, sendo um deles, por seu talento de jornalista e orador um dos notáveis, entre os seus colegas, e uma glória para Campos, por ter sido um dos mais fortes baluartes contra a escravidão.
Em 1861 a Matriz estava muito estragada pelo tempo, quando o visconde de Araruama e os comendadores João Almeida Pereira, Julião Ribeiro de Castro e Joaquim Ribeiro de Castro, cada um à medida de suas forças, a reconstituíram, conservando as portas e portadas da frente que haviam sido reformadas, e é por isso que tem por cima da porta o ano de 1824.
Em 22 de junho de 1862, estando a Matriz reconstruída, tiveram lugar o benzimento e a trasladação do Santíssimo Sacramento.
A torre da Matriz, tendo sido fendida por uma faísca elétrica, que caiu a 21 de fevereiro de 1869, foi em 1879 consertada do lado este, e a outra, que era menor, foi reconstruída de modo que ambas ficaram uniformes.
Aberta pelo vigário Pelinca uma subscrição pública para conserto da igreja Matriz, foi subscrita por grande número de paroquianos, e ajudada pelas respectivas irmandades do S. Sacramento e Passos e pela devoção das Dores, que se prestaram, fazendo reparos, douramento e adornos da Capela-mor e respectivas Capelas. Também a assembléia provincial autorizou ao presidente concorrer com 12 contos para auxílio das obras.
(*) Parede de estuque.

BIBLIOGRAFIA
FEYDIT, Júlio, Subsídios para a história dos Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, RJ, Editora Esquilo Ltda, 1979.
HEMEROGRAFIA
Guia Geral da Cidade de Campos dos Goytacazes – 1992 – pgs. 41 a 43 – ano 49 nº 49




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